quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O DIABO DOS NÚMEROS

Enzenberger, H. Magnus - Der Zahlenteufel - Munique/Viena: Carl Hanser Verlag, 1997


O Diabo dos Números (trad. port. de Fátima Freire de Andrade, Porto: Edições Asa, 1998)

“Um livro de cabeceira para todos aqueles que têm medo da Matemática”.
O Diabo dos Números de
H. Magnus Ensenberger, conta a história de Roberto, um menino imaginativo que sonha com peixes enormes que engolem seres humanos, escorregas intermináveis que terminam em abismos e outras maluquices e que considera a Matemática um amontoado de números e fórmulas sem qualquer sentido.

A relação de Roberto com a Matemática começa a modificar-se quando, num dos seus milhares de sonhos, Roberto encontra Teplotaxl, o Diabo dos Números.
Em 12 noites, 12 sonhos, o diabo muda por completo a imagem que o rapaz tem da Matemática. O personagem desafia Roberto com problemas e enigmas que, ao longo dos 12 sonhos, o fazem perceber que aprender a Matemática pode ser uma boa aventura. Números triangulares, expoentes, séries de Bonatchi, fracções, tornam-se numa grande festa e perdem a sua usual aparência ameaçadora.
Teplotaxl não dá “aulas” a Roberto com o objectivo de o ensinar a subtrair, a decorar a tabuada ou a fazer contas imensas e aborrecidas. Para isso, existem hoje as máquinas de calcular! Não!!! Ele ensina-lhe a beleza dos números. “A maioria dos matemáticos de verdade nem sabe fazer contas”, diz o diabo. Melhor que saber contar é saber pensar. Assim, o zero, esse cardinal que representa o vazio, deixa de ser um nada e aparece como uma invenção genial. Da mesma forma, o número um, habitualmente tão simples e que o diabo utiliza para escrever todos os números que existem: “Só faço isto por causa de ti! Tu é que tens medo da Matemática e queres que tudo seja o mais simples possível para não ficares baralhado.”
Teplotaxl aparece, na segunda noite, sentado num cogumelo. Espera que Roberto adormeça e, depois, surge em sonhos, escorregando por “uns” gigantescos, com muitos números do tamanho de mosquitos zumbindo à sua volta.

Roberto compara a floresta dos gigantescos “uns” com um livro de histórias para crianças e o cogumelo onde o Diabo está sentado ao cogumelo de
Alice no País das Maravilhas de Lewis Caroll.

Mas, diferentemente do que acontece no reino de Alice, na Matemática predomina a exactidão. Embora possa parecer confusa e até arbitrária, Teplotaxl mostra a Roberto que a matemática é perfeita.
O aluno, por fim, entende que, deixando-se levar pela dança de números e das surpresas, a Matemática se pode tornar numa diabólica diversão.
Na última noite, Teplotaxl visita Roberto para lhe entregar um convite.
O rapaz sobe para os ombros do Diabo e voam os dois de encontro ao Paraíso dos Números. Teplotaxl apresenta-lhe vários Diabos dos Números que se encontram no palácio:
Russel, Cantor, Eüler, Gauss, Bonatchi, Pitágoras. Hierarquicamente, no Paraíso dos Números, o homem mais poderoso era o inventor do um, seguido do inventor do zero.
Teplotaxl é exigente e sério, mas só apresenta questões que Robert pode resolver, ampliando os seus desafios a cada sonho.
No final do livro, o autor faz um "Aviso" aos leitores. Há termos que são utilizados no livro que não são adequados em Matemática.
Antes dos agradecimentos, há ainda uma "Lista de achados e perdidos", uma espécie de índice alfabético dos termos referidos ao longo do livro de forma a que o leitor encontre os temas facilmente.
O subtítulo desta obra não podia ser melhor. Numa linguagem literária, o autor desmistifica conceitos ditos infernais pelos alunos, por exemplo, as fracções. No entanto, apesar de tratar questões matemáticas com uma linguagem muito acessível não descura a correcção dos conceitos.
O Diabo dá-nos duas pistas que fazem do livro uma leitura essencial para todos os professores de Matemática. A primeira, que nem sempre as dificuldades dos estudantes em relação à Matemática são problemas dos estudantes mas resultado de uma inadequação relativa à forma como a Matemática é ensinada na escola. A segunda, que sem desafios a vencer é difícil conseguir que os alunos se encantem com as matérias.

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